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30/08/2024

As roupas que não cabem mais

Saem dos cabides vestidos que nem chegou a usar. Me desfaço de sapatos que só andaram uma ou duas vezes. Há pijamas que a vesti até que a barriguinha começasse a ficar de fora, tamanho apego pela peça. Vejo minha bebê se transformando em menina e aqueles pedaços de tecido, pelos quais tanto senti afeto, passam a virar memória ou desapego.

Sabe que me lembro de algumas roupas de minha infância? E, também, de episódios engraçados. Recordo-me de, no calor de uns 30 graus, eu bater os pés para minha mãe, dizendo que queria usar um vestido de mangas compridas – de plush! – para ir a um aniversário. Também lembro da época das saias rodadas, inspiradas nas dançarinas de lambada, e de exigir que as saias que me fossem compradas, rodassem quando eu girasse. 

Claro, não fica por aí. Tenho lembranças das roupas de personagens infantis, dos camisetões extremamente folgados e largos, dos moletons amarrados na cintura e dos vestidinhos estilo salopete, que me deixavam com ares de bonequinha. Sinto, quase que palpável, uma saudade daqueles trajes tão vazios de questões densas da vida adulta. Olho agora, para as peças que formam uma pilha em cima do móvel, e desejo que minha filha tenha as mesmas boas memórias de uma época gostosa que viveu.

A parte boa do tempo passar é que a gente tem a opção de transformar a vida de outras pessoas. Daqui de casa, saem sacolas enormes de doações para pessoas que precisam do nosso apoio. Além disso, peças com memória afetiva são repassadas para familiares ou amigos próximos, que seguirão contando histórias com aquela roupinha. 

Não sei como você encara essa questão, mas eu adoro a possibilidade de poder vestir-me numa roupa nova – mesmo que ela seja usada. De poder escolher um traje de aniversário para minha filha. De comprar roupinhas temáticas para as épocas do ano ou datas comemorativas. Dou enorme valor ao privilégio de um armário cheio e sinto a partida das peças que fizeram boas memórias, mas sabendo que completarão os armários de alguém que precisa mais delas. Hoje, me desfaço não só de pedaços de tecido: me despeço de fragmentos da história de minha filha, que tem poucos anos de vida, mas que já rendeu muitos episódios maravilhosos para o livro da nossa vida.

Autora: Bianca Ferreira de Carvalho | instagram@e.sobre.nos